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Programa “Observadores a bordo” avança com estudos sobre a “Gata”

A implementação, já este ano, do programa “Observadores a bordo” é o primeiro passo para a realização dos estudos científicos e técnicos que Bruxelas tem reclamado das autoridades regionais para aferir do estado de conservação do turbarão de profundidade e os impactos que a captura acidental e inevitável possam estar a causar nesta espécie popularizada na Região como “Xara”, “Gata” ou “Bacalhau de Câmara de Lobos”. 08-03-2021 Mar e Pescas
Programa “Observadores a bordo”  avança com estudos sobre a “Gata”

A captura acessória da espécie foi proibida no início deste ano pela Comissão Europeia e prolonga-se até 2022. Bruxelas tem reclamado há vários anos estudos científicos e técnicos da Região. O Governo Regional avança agora com essa exigência. 

 

Aproveitando o hiato de dois anos de suspensão, agora decretados, a secretaria regional de Mar e Pescas, através da direção regional do Mar, vai utilizar esse tempo para realizar os estudos científicos e técnicos que ajudem a suportar uma solução equilibrada e ponha cobro a um problema que se tornou recorrente, noticia o DN Madeira.

 

A própria diretora regional do Mar, Mafalda Freitas, bióloga e investigadora, depois de reuniões de trabalho com o secretário regional de Mar e Pescas, Teófilo Cunha, decidiu chamar a si a elaboração de um documento onde estabelece a metodologia para a realização do referido estudo científico e técnico.

 

O documento já foi entregue ao secretário regional de Mar e Pescas e nele surge como novidade a implementação do programa “Observadores a bordo”, projeto que deverá contar com verbas do Plano de Recuperação e Resiliência para assegurar o seu desenvolvimento.

 

A credibilidade do estudo é uma das preocupações da secretaria regional do Mar. Nesse sentido, a proposta da diretora regional para o programa “Observadores a bordo” aponta para a contratação de serviços de uma entidade científica e técnica independente, podendo ou não juntar-se a bordo biólogos, investigadores e técnicos da direção regional do Mar.

 

A recolha dos dados será feita no âmbito de uma campanha experimental de captura do peixe-espada, pensada e programada exclusivamente para a realização deste estudo científico.

 

É do senso comum que na Madeira não há nenhum modelo de pesca dirigida especificamente à pesca do tubarão de profundidade. O que existe, acontece de forma “acidental e inevitável”, quando os pescadores estão na faina do peixe-espada.

 

É o próprio tubarão que, ao abocanhar o isco da espada ou a própria espada, acaba por ser içado para bordo das embarcações de pesca, onde chega morto, sem que o pescador possa fazer alguma coisa para evitar a sua captura. A proibição europeia impede o pescador de ficar com o tubarão a bordo ou simplesmente transportá-lo para terra.

 

No documento intitulado “Pescaria do peixe-espada preto e o impacto nos tubarões de profundidade”, Mafalda Freitas apresenta a metodologia e as ações a desenvolver para a realização da pesquisa científica e técnica.

 

Recorda que a pescaria do peixe-espada tem origem no século XVII, sublinha que Câmara de Lobos “é uma cidade nascida e criada por esta pescaria” e nota que se trata de “uma atividade histórica com uma importância social e cultural que ultrapassa largamente os indicadores económicos”.

 

Esta argumentação e enquadramento temporal, social e económico da diretora regional do Mar, é um alerta à União Europeia para o que redundaria num descalabro social e económico para a comunidade piscatória de Câmara de Lobos reduzir, por exemplo, as quotas anuais do peixe-espada preto para, deste modo, evitar a captura “acessória e inevitável” do tubarão de profundidade.

 

É com a intenção de travar eventuais decisões precipitadas, a partir dos gabinetes em Bruxelas que Mafalda Freitas aponta o conjunto de medidas a implementar já no decurso deste ano.

 

Assim, propõe a realização de uma campanha experimental de pesca do peixe-espada preto, durante a qual os investigadores e técnicos vão testar, por exemplo, diferentes tamanhos de anzóis. O objetivo é perceber se com a utilização de outro tipo de anzol na captura do peixe-espada existe uma diminuição das capturas do tubarão. 

 

Outro ensaio técnico vai testar diferentes tempos de imersão do aparelho artesanal utilizado na pesca do peixe-espada. Com esta experiência os investigadores procuraram saber se existe um aumento da taxa de sobrevivência das espécies acessórias, entre elas o tubarão.

 

O peixe-espada preto é uma espécie de grande profundidade (800 a 1200 metros). Sabendo disso de antemão, os “Observadores a Bordo” vão testar diferentes profundidades de pesca do peixe-espada (entre os 500 e os 2000 metros de profundidade). Este estudo ajudará a definir zonas de reprodução das espécies acessórias e tentar mostrar que o aparelho de pesca tradicional não atua sobre essas zonas.

 

A metodologia de trabalho conduzirá também à realização de amostragens biológicas das espécies a descartar (mortos). O objetivo é aumentar o conhecimento acerca da reprodução e biologia da espécie acessórias.

 

Fazer estimativas das taxas de sobrevivência das espécies acessórias, comparativamente ao aparelho de pesca tradicional do peixe-espada.  Registar imagens da alagem do aparelho artesanal, compreender o comportamento ecológico e distribuição espacial e avaliação dos stocks, desenvolver mapas de localização das capturas e esforço, são outras das tarefas dos investigadores.

 

Com a realização deste trabalhão científico e técnico, o Governo Regional, através da secretaria regional de Mar e Pescas, procurará demover, nos próximos dois anos, as autoridades europeias a levantar a proibição imposta e a evitar futuras suspensões.

 

A “Gata” ou “Xara” é uma espécie muito apreciada no concelho de Câmara de Lobos e um dos elementos mais simbólicos da cultura gastronómica local.  


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