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Classificação da Igreja Matriz de São Jorge, Santana, como Imóvel de Interesse Público

A Igreja de São Jorge integra o núcleo de arquitetura religiosa barroca da Ilha da Madeira, apresentando alguns elementos de gosto rocaille. A sua construção data do século XVIII, ficando o templo concluído em 1761, como atesta inscrição na fachada, e foi benzido a 17 de setembro pelo bispo D. Gaspar Afonso da Costa Brandão.  10-02-2023 Direção Regional da Cultura
Classificação da Igreja Matriz de São Jorge, Santana, como Imóvel de Interesse Público

Igreja de São Jorge (Santana). 

 

A Igreja de São Jorge integra o núcleo de arquitetura religiosa barroca da Ilha da Madeira, apresentando alguns elementos de gosto rocaille. A sua construção data do século XVIII, ficando o templo concluído em 1761, como atesta inscrição na fachada, e foi benzido a 17 de setembro pelo bispo D. Gaspar Afonso da Costa Brandão. 
Alguma historiografia madeirense aponta o ano de 1475 para a construção da primeira Ermida de São Jorge, no entanto, documentalmente é apenas referida em 1509, mencionando-se então a sua antiguidade. Estava edificada no calhau, junto ao mar, e foi destruída por um incêndio, em 1598, sendo reedificada pelos fregueses. Em 1515, tinha recebido ornamentos e alfaias, ofertas do rei D. Manuel I, “o Venturoso”.
Um novo templo foi edificado na transição do século XVI para o século XVII, mas a sua condição precária levou a que a 19 de julho de 1660 o morgado Francisco de Carvalhal e Vasconcelos fizesse doação de um terreno para a construção de uma nova igreja, no sítio da Achada, que em 1677 já estava concluída.
Várias notícias, ao longo do século XVIII, dão conta do estado da igreja, encontrando-se, em 1706, o retábulo-mor danificado com ruturas, e em 1727 o camarim não estava concluído. É a partir de 1737, que são iniciadas as obras de edificação daquela que viria a ser a quarta Igreja de São Jorge, “a igreja grande”, sabendo-se que em 1743 a capela-mor já estava decente para o culto divino. Data de 1746 a petição do vigário Francisco Marques de Mendonça, grande mentor desta construção, para o retábulo dourado, pinturas e azulejos, obras que envolveram João Martins de Abreu, mestre das obras reais, e o escrivão da fazenda e contos, Domingos Afonso Barroso. Entre 1749 e 1756, foi dada ordem para a feitura do altar-mor, com retábulo, tribuna e pintura, envolvendo o mestre das obras reais, Domingos Rodrigues Martins (c.1710-1781), autor do “risco” (desenho / projeto - 1750); o entalhador Julião Francisco Ferreira, natural de São Miguel (Açores), residente na Madeira desde pelo menos 1730, e que executou a talha da capela-mor e altares colaterais; o dourador José António da Costa, natural das Canárias, que assentou casa na ilha exatamente para executar pintura e douramento nesta igreja. Refira-se que a traça inicial deste templo partiu do projeto de Diogo Filipe Garcês, mestre das obras reais, cargo que exerceu no Funchal entre 1727 e 1744.
A Igreja de São Jorge, de planta longitudinal e nave única, apresenta fachada com frontão triangular, encimado por cruz, e portal, em cantaria, de arco pleno, cornija saliente sobreposta por volutas, e pilastras toscanas. No exterior, uma pilastra, em pedra, com remate em concha vieira e espirais, remete para uma reutilização de elementos construtivos reaproveitados de construção mais antiga, dos séculos XVI e XVII, assim como os restos de azulejos, de oficina lisboeta e de finais do século XVI (c.1580), que estão na torre sineira, são, pela sua cronologia, provenientes do segundo templo de São Jorge. No interior da igreja, o arco do batistério datará de cerca de 1660, tendo aqui sido posto durante as obras do século XVIII. Outros objetos do século XVII são provenientes da antiga ermida: lampadário de varetas, de prata; vários painéis de azulejos de padrão, de oficina de Lisboa; fragmentos de lajes sepulcrais; imagens de oficinas nacionais, como “Nossa Senhora da Encarnação”, com coroa de prata, e “Santo António”, de madeira estofada e dourada, e uma pintura representando a “Visitação”, possivelmente de oficina nacional (?). De finais século XVII ou de inícios do século XVIII, é a imagem equestre de “São Jorge”, e setecentistas são as imagens do “Bom Jesus”, de “São Vicente Ferrer alado” e de “São Sebastião”. Destacam-se na capela-mor, a talha retabular, o sacrário e o trono eucarístico, que conjuntamente com os altares colaterais e o púlpito formam um conjunto artístico de grande aparato cenográfico, bem ao gosto do barroco joanino (2.º quartel do século XVIII a c.1740-1750), com incursões rocaille (c.1735-c.1765). Evidenciam-se, ainda, na capela-mor, pinturas representando “Episódios Bíblicos” e “Cenas da vida de Sáo Jorge”, atribuídas aos pintores e douradores naturais das Canárias, José António da Costa e João António Villavicêncio, possivelmente com parceria de António Trindade da Cruz, natural de Setúbal, e o teto com efeitos de ilusão perspética, varandins, anjos e figuras alegóricas, é da autoria de José António da Costa. Uma tela de grandes dimensões, “São Jorge e o dragão”, é de oficina regional, assinada, o que tudo indica pelo pintor madeirense Filipe Caetano. De ourivesaria setecentista mencionam-se duas peças de prata, um lampadário de “sete luzes” e uma cruz.
Toda a Igreja de São Jorge identifica o gosto barroco joanino, com o “horror vacui” (horror ao vazio), de grande sentido cenográfico, ostentando um rico património religioso e artístico, que preenche totalmente o espaço com imagens e pinturas devocionais, e talha dourada, tendo no remate do arco triunfal as armas reais. Na Madeira representa a típica “igreja forrada a ouro”, para usar a expressão do historiador americano Robert Smith (1912-1975), especialista de arte portuguesa.
A igreja de São Jorge é classificada como imóvel de interesse municipal, desde 1995.

 

Rita Rodrigues,

Texto produzido para o programa Música a Norte – 2019


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