O manto dourado voltou a cobrir o areal do Porto Santo. Depois de um verão, em que a quantidade de pedra basáltica acumulada entre a zona do Porto de Abrigo e as Pedras Pretas foi notícia e motivo de reparo dos turistas, a areia voltou a cobrir por completo aquela extensão de praia. Um fenómeno que não é novo e que já foi alvo de vários estudos, um dos quais, por aquele que é certamente a referência nacional na matéria, como nos adiantou a Secretária Regional do Ambiente e Recursos Naturais, Susana Prada.
“A dinâmica sedimentar da Praia do Porto Santo é relativamente bem conhecida, graças ao estudo técnico/científico elaborado, em 2008, por uma equipa liderada pelo Professor Doutor César Andrade, Professor Catedrático do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa. O caso concreto do surgimento da cascalheira basáltica resultou da dinâmica da linha de costa que, num dado instante, depende de um equilíbrio entre três fatores: o nível relativo do mar, a atividade da ondas e fornecimento sedimentar”, sustenta Susana Prada.
“À escala inter-anual, nos anos em que predomina a ondulação marítima proveniente do quadrante sudeste verifica-se um transporte de areia para oeste, expondo os seixos que existem entre o Porto de Abrigo e as Pedras Pretas. Por outro lado, sazonalmente, em função da força das ondas, a variabilidade ocorre através de transferências de areias entre os segmentos superior (fora de água) e inferior (submarino) da praia. Ou seja, existem movimentos longitudinais e transversais dos sedimentos da praia, sem que isso corresponda necessariamente a perdas ou ganhos de areia”, refere a Secretária do Ambiente.
“Felizmente, voltámos a ter a praia do Porto Santo coberta pelas suas areias douradas, evidenciando a cilcicidade do fenómeno. Ainda assim, não podemos esquecer que face às alterações climáticas, e atendendo à diminuição da alimentação natural da praia por via da crescente urbanização e da perda de areia entre a Calheta e o Ilhéu da Cal, observa-se uma tendência regressiva do litoral, com de resto menciona o estudo do Professor César Andrade”, acrescenta Susana Prada.
É o acesso ao conhecimento científico produzido por esse estudo sobre a dinâmica costeira do Porto Santo, que a Secretária Regional do Ambiente e Recursos Naturais quer promover.
Esse será também o ponto de partida para a promoção de um fórum de debate, já esta primavera, com especialistas na área. “Só perante elementos cientificamente válidos, poderemos delinear uma correta estratégia de monitorização, um correto uso e ocupação do solo, e uma intervenção caso se justifique. O importante é que não criem desequilíbrios na Natureza, nomeadamente ao nível da sua dinâmica natural”, conclui Susana Prada.