O Estado Social está hoje no centro das preocupações das Pessoas.
Numa época em que muitos responsáveis públicos perderam a capacidade de pensar a política pública para lá de um economicismo canhestro;
Convém recordar que o Estado Social do século XX implantou-se não como uma vanguarda do igualitarismo revolucionário, mas antes, como um instrumento dos partidos liberais, social-democratas e democratas cristãos do pós-guerra, para instituir uma barreira contra a depressão económica e o lastro habitual de insegurança, precariedade e miséria social;
Evitando assim o alastrar dos extremismos políticos, de que a emergência do totalitarismo dos Regimes Fascistas e Comunistas constituíram, sem dúvida, o exemplo mais terrível e brutal.
Graças a mais de meio século de prosperidade e de estabilidade, as novas gerações de políticos têm tendência a se esquecer da importância da experiência do passado na abordagem dos problemas do presente.
Os Estados Sociais, ou Estados Providência, foram assim Estados Profilácticos, na feliz expressão de Tony Judt.
Foi devido aos serviços e às redes de segurança incorporados nos aparelhos governativos do pós-guerra que os cidadãos dos países desenvolvidos foram gradualmente perdendo os sentimentos de risco, de medo, de frustração, de injustiça e de ressentimento que proliferaram nos anos 20, 30 e 40 do século passado, com as consequências terríveis que todos conhecemos.
É preciso não esquecer: a história ensina-nos que nunca foi possível manter nenhuma democracia em contextos de degradação sistémica das condições materiais de vida das populações.
A grande maioria dos cidadãos europeus sabe que o Estado Social hoje exige a busca de novas soluções e novos compromissos a fim de assegurar a sua sustentabilidade financeira;
Mas a verdade é que a maioria dos cidadãos também não aceita de ânimo leve o desmantelamento da resposta colectiva dos serviços sociais e o aumento despudorado – e, por vezes, chocante – das desigualdades na distribuição de rendimentos e de riqueza em nome de forças e dinâmicas de mercado obscuras sobre as quais tardamos em instituir mecanismos estaduais e intergovernamentais de controlo;
O que se passou nos últimos anos, a nível do sistema financeiro, quer a nível nacional quer a nível internacional, é paradigmático quanto às consequências de um capitalismo predatório disfuncional e não regulado.
Longe de ser um obstáculo ao progresso e ao desenvolvimento o Estado Social eficaz é a resposta essencial, condição de paz e inclusão para os mercados funcionarem bem.
Se a questão da coesão social não for tratada num mundo cada vez mais polarizado, entre dinâmicas globais não reguladas e indivíduos isolados com medo de perder o controlo sobre as suas rotinas e circunstâncias, então estamos a abrir o caminho para projectos cada vez mais extremistas e radicais.
E a História trágica do século XX tende a repetir-se.