O governante refere que este interesse crescente por John dos Passos, “a quem a Região atribuiu o seu nome ao Centro Cultural na Ponta do Sol, de onde era natural o seu avô Manoel Joaquim dos Passos, que partiu da Madeira para os Estados Unidos da América no século XIX, vem evidenciar ainda mais o valor do trabalho do escritor luso-descendente e releva, também, a importância do Centro Cultural John Dos Passos na divulgação da ligação entre o escritor e a Região e o seu papel na preservação do conhecimento da obra e memória deste escritor um quarto madeirense”.
A jornalista Aurore Chiroix procura, em linha com a série de programas que produz, estabelecer a ligação entre o escritor e a ilha e aferir de que forma a Madeira o inspirou a nível pessoal. Parte, sobretudo, do ensaio, intitulado ‘Madeira’, que John dos Passos escreveu ainda enquanto aluno da Harvard (1914), e que relata as suas impressões da viagem que havia feito aos nove anos de idade à ilha com os seus pais em maio de 1905, e das suas memórias publicadas em The Best Times (1966).
Pretende, ainda, ver se e de que forma a sua ascendência portuguesa e a sua ligação à ilha tiveram impacto na sua obra.
A 1.ª visita à Madeira
Recorde-se que John Dos Passos visitou a Madeira em maio de 1905 por um período de três semanas, tendo ficado a família hospedada no hotel Reid’s.
Vindo do continente europeu, onde vivia com a mãe, e habituado ao cinzentismo daquelas paragens, a visita à ilha foi deveras impactante. Já com a primavera bem avançada, os céus e mar azuis da Madeira, as flores coloridas, exuberantes e aromáticas, não só dos jardins do hotel, mas da cidade, ficaram indelevelmente registados na memória do jovem John.
O seu ensaio é um hino aos sentidos de onde sobressaem a perceção aguçada da visão, audição e olfato de uma criança. Nele revisitamos as vivências dessa estada, seja a brincar com as lagartixas no jardim, a banhar-se no mar junto ao hotel, seja a deliciar-se encosta abaixo nos carros de cestos, ou, ainda, nas viagens pachorrentas nos carros de bois.
Passa pela Madeira novamente em 1921, em escala a bordo do Mormugão, de New Bedford para Lisboa, em viagem com o seu amigo, também escritor, E. E. Cummings, a quem mostra o Funchal.
Volta, finalmente, à Madeira com a sua esposa e a filha Lucy em julho de 1960. Visita e é homenageado a 20 de julho na “minúscula povoação enterrada numa fenda profunda da montanha” que vira o seu avô nascer. Os jornais da época dão conta do impacto desta visita, oportunidade também para o encontro com familiares.
Em entrevista ao Diário de Notícias, dá conta da sua intenção de escrever um ensaio sobre cultura portuguesa, que se concretizaria com a publicação, em 1969, de The Portugal Story, a sua última obra publicada em vida, texto também tido em consideração para o documentário.
A perceção de que era em parte português, aliada às circunstâncias da sua vida, rica em experiências e sempre em movimento de um lado para outro, fizeram com que John Dos Passos sempre tivesse presente a sua ligação à Madeira, ligação que continua bem viva nos seus descendentes.
Para além deste documentário de 15 minutos sobre John Dos Passos e a Madeira, a jornalista Aurore Chiroix aproveita esta oportunidade de estar na ilha para produzir outros três documentários – um sobre o Vinho Madeira, outro sobre o Açúcar e ainda um outro sobre a Quinta Jardins do Imperador.