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ARTESANATO MADEIRENSE

Valorize, compre o que é nosso 21-02-2021 Turismo e Cultura
ARTESANATO MADEIRENSE

O Museu Etnográfico da Madeira tem aumentado o número de partilhas virtuais, que permitem manter o envolvimento com o seu público virtual, mas convida-vos, a TODOS, a visitarem o museu e conhecer o nosso património cultural, nomeadamente as várias peças de artesanato, que fazem parte do seu acervo e estão expostas na exposição permanente e, periodicamente, em diferentes exposições temporárias. Teremos muito gosto na Vossa visita!

O museu decidiu criar a rubrica  “ARTESANATO MADEIRENSE – Valorize, compre o que é NOSSO”, procurando contribuir, desta forma, para a sua recuperação. Através do nosso património, procuramos manter viva a nossa Identidade e alimentar a esperança, através da criatividade.

Através da partilha de obras de artesanato, de produção regional, o museu pretende dar a conhecer os artesãos madeirenses e incentivar a população em geral, a comprar o que é NOSSO. Esta semana, divulgamos o MOBILIÁRIO E CESTARIA EM VIMES de JOSÉ PEREIRA DE FREITAS.

O vimeiro cultivado na Madeira, é um cruzamento da espécie do género Salix alba L. (choupos) com o Salix fragilis L. (chorões). A sua cultura estava espalhada por toda a ilha, principalmente nos terrenos húmidos, leitos das ribeiras, lameiros e próximos das levadas.

O vime é um material de origem vegetal, utilizado desde tempos primitivos. É a haste mole, flexível, comprida, delgada e resistente do vimeiro e constitui a matéria-prima para a produção de diversos artefactos.

O cultivo do vimieiro, sobretudo nos concelhos do norte da Ilha da Madeira e regiões montanhosas, onde predomina um clima chuvoso e húmido, propício ao desenvolvimento desta planta foi, durante o Séc. XX, uma das culturas dominantes e uma das principais fontes de rendimento para muitas famílias, fornecendo a matéria-prima à indústria da obra de vime.

O fabrico de mobiliário só terá começado no século XIX, tendo a indústria dos vimes tido a sua raiz na Camacha, na segunda metade deste século, altura em que muitas famílias inglesas ali tinham as suas casas de campo. O fator geográfico terá tido, também, alguma influência, visto tratar-se de uma zona de terrenos húmidos e, portanto, propícia ao desenvolvimento da planta.

Segundo consta, William Hinton terá trazido mobílias, e pedido a artesãos locais que as reproduzissem. Inicialmente, os artífices usaram esses modelos, mas tornaram-se exímios nesta arte, desenvolvendo-a, com a sua perícia e criatividade, tendo começado a fornecer mobiliário e outros acessórios, para os melhores hóteis do Funchal e a exportar para a Alemanha e a Inglaterra.

A partir dessa época tornou-se comum encontrarmos o mobiliário em vime, de produção local, não só na unidades hoteleiras, como nos restaurantes, nas mais diversas empresas e em todas as casas madeirenses.

Contudo, existem outros autores, que associam a origem mais remota do mobiliário em vime, a um processo de fabrico de umas cadeiras, em palha de centeio, que seriam construídas, na época, pelos presos da cadeia da cidade do Funchal. Um deles teria, depois, provavelmente, levado a arte para aquela freguesia, único local de produção destes artefactos, durante muito tempo, tendo, então, a indústria evoluído, posteriormente, pela influência dos ingleses, nomeadamente William Hinton, que teria transmitido aos artífices da "obra de vime" os conhecimentos que possuía da indústria de móveis, já existente na época, na Inglaterra e na Alemanha, fabricados com hastes de cipó, matéria-prima, que possuía a mesma flexibilidade e outras propriedades semelhantes ao vime.

O"Café Relógio" foi um espaço, desde sempre, ligado a esta indústria artesanal, naquela freguesia. Ali existia uma oficina e se comercializaram vimes durante mais de um século. A torre do edifício, onde está sediado, alberga um relógio, originário da Igreja Paroquial de Walton, em Liverpool, que denota a presença inglesa naquela freguesia e terá sido mandada construir, na época, por Michael Graham, na Quinta da Camacha, sua propriedade.

A obra dos artefactos em vime atingiu o seu apogeu durante grande parte do Séc. XX, com exportações para o estrangeiro e território continental. Esta indústria encontra-se atualmente em declínio, o que consequentemente levou ao abandono quase total das atividades do cultivo e preparação do vime. Contudo, ainda existem pequenas produções de vime regional, com maior incidência nas localidades da Camacha, Curral das Freiras e Boaventura, utilizando-se os métodos tradicionais de tratamento desta fibra vegetal, para poder ser posteriormente trabalhada.

São também já muito poucos os artesãos que produzem mobiliário e cestaria em vime, correndo-se o risco de virem a extinguir-se, motivo pelo qual se torna muito importante a sua salvaguarda, valorização e divulgação.

Em termos formais e funcionais, a “obra de vimes” divide-se em três categorias: a “obra leve” (cestos para flores e pequenos objetos), a “obra média” (cestos de vários formatos para uso doméstico e cestos utilizados nas tarefas agrícolas, como os “cestos vindimos”) e o mobiliário (cadeiras, mesas, canapés, estantes, etc.).

José Pereira de Freitas, é um dos últimos artesãos, que produz este artesanato tradicional, salvaguardando esta arte, sendo mestre em todas estas categorias da “obra de vime”.

No âmbito deste projeto, de valorização e apoio ao artesanato, a Secretaria Regional de Turismo e Cultura tem vindo a adquirir, desde 2020, várias peças aos artesãos madeirenses, de forma a apoiar estes profissionais, tendo sido adquirido um conjunto de artefactos em vime, da autoria deste artesão, que irão integrar o acervo do museu.


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