O presidente do Governo Regional falava durante a XVI Conferência Anual do Turismo, uma iniciativa da delegação da Madeira da Ordem dos Economistas, que decorreu na manhã deste dia 28 de novembro. Uma iniciativa que elogiou profusamente.
O líder madeirense optou por fazer uma intervenção onde não falou das tecnologias – tema que, conforme assumiu, lhe é caro – tendo colocado o foco na radicalização e na disfuncionalidade cada vez mais latentes e patentes nas nossas sociedades.
Um fenómeno que, explicou, deve-se ao facto de «estamos a viver hoje, novamente, uma ideologia de “laisser faire”, que tem levado a uma concentração exponencial da riqueza em poucos e à marginalização de um conjunto crescente de cidadãos que antigamente se chamava classe média». «E cujas expetativas de progresso, na atual conjuntura e no atual contexto, no Ocidente não são visíveis», lamentou.
Desta forma, avisa, vem surgindo algo que é muito perigoso, «mas que é um agente ativo, movente e catalisador de mudanças sociais, que é o chamado ressentimento e que pode dar origem a movimentos políticos muito impactantes».
Para obstar a este sentimento em crescendo, exortou, «as elites políticas em conjugação com as elites empresariais têm de encontrar, no quadro da nova globalização e no quadro de crescente concentração dos principais ativos económicos nas principais plataformas (as grandes empresas são plataformas), uma fórmula, um conjunto de princípios, um caminho para a construção ou manutenção do Estado Social nas democracias ocidentais».
Porque, alertou, «se isso não acontecer, vamos ter uma aceleração dos movimentos populistas, que vão levar à disfuncionalidade das próprias democracias e pôr em causa sociedades que são fundadas em direitos, liberdades e garantias e, portanto, na expetativa de serem sociedades coesas, justas do ponto de vista social e económico».
Miguel Albuquerque sublinhou ser esta «uma discussão que está na ordem do dia e que exige uma reflexão, que é como criarmos uma sociedade justa e coesa, onde todos os cidadãos se sintam integrados, e como é que o Estado, hoje, pode garantir que essa sociedade funcione em benefício de todos».
«As próprias elites têm de estar formadas com princípios éticos e com sentido de corresponsabilização desse desígnio. Não há hipótese de nós melhorarmos as nossas sociedades, com elites predatórias, sem qualquer sentido da sua responsabilidade social», avisou.
Miguel Albuquerque lembrou que para se perceber o que está a acontecer hoje há que ler os clássicos, dando o exemplo da peça “Ricardo III”, de William Shakespeare, chamando ainda atenção para princípios básicos e fundamentais - coesão social, dinamização da economia, criação de emprego e segurança – que fizeram com que as sociedades do pós-guerra, na Europa e nos Estados Unidos, fossem as mais prósperas, as mais equilibradas, as mais coesas e, por conseguinte, as mais pacíficas.
«Foi essa fórmula que segurou as democracias pluralistas. Podemos pensar nos seus defeitos, mas apesar deles são o melhor regime que até hoje foi engendrado pelo ser humano», defendeu.