1. A actual conjuntura é especialmente preocupante para os idosos?
As pessoas mais velhas, particularmente, aquelas que os demógrafos agruparam na 4ª idade, ou seja, com 80 anos e mais, apresentam condições físicas, psicológicas, sociais, e, também cognitivas e de funcionamento individual e social, que as coloca numa situação de risco acrescido, algumas inclusive, apresentam um conjunto de sintomas e sinais compatíveis com a síndrome de fragilidade geriátrica.
Essa condição de risco pode ser agravada pela dificuldade em gerir todas as situações que a envolvente atual, origina, desde logo, o aumento dos encargos com despesas diárias, num quadro de rendimentos de pensão ou equivalente, predominantemente baixos, a rondar os 5895,00 € (valor médio anual das pensões, Centro Nacional de Pensões 2020), mesmo que esses recursos, sejam complementados com apoios financeiros, como aqueles que neste momento estão a ser disponibilizados. As pessoas idosas estão debaixo de pressão e as opções possíveis, ao nível alimentar, habitação, socialização e terapêutica, podem não ser as adequadas para as proteger da fragilidade, havendo risco de desnutrição e de declínio motor, cognitivo e instalação de depressão.
Em suma, numa conjuntura global hostil, em que os mais idosos, são grandes na idade, nas doenças, nos medicamentos, mas pequenos na família, nos amigos, nos rendimentos e no apoio social, acabam por ser aqueles que muito aguentam os efeitos adversos dessa conjuntura.
2. Como incluir a população mais velha neste mundo cada vez mais tecnológico?
Apesar do aumento da utilização da internet e dos smartphones, temos consciência de haver desigualdades. Os menos instruídos, com menos posses e com mais idade estão em clara desvantagem. A inclusão digital dos mais idosos passa por saber aproveitar o potencial intergeracional das famílias e das comunidades educativas, e também pelo uso da teoria comportamental e do conhecimento livre de contexto dos mais idosos, como facilitadores de integração.
Passa ainda pelos serviços públicos e privados, encararem a transição digital como investimento e o digital próximo como solução, disponibilizando quiosques digitais acompanhados, fixos ou móveis, fomentando a formação de proximidade em TICs.
Nesta dimensão de inclusão digital, impõe-se ainda, desenvolver mecanismos de regulação face à uberização crescente de soluções tecnológicas que fazem a articulação entre utente e os cuidados de saúde e de apoio social.