A observação do céu com tonalidade amarelada ou esbranquiçada, que pode estar associada ao que localmente designamos por “tempo de leste” e a ocorrência da regionalmente apelidada “chuva de terra” são dois tipos de eventos naturais que têm a mesma génese, constituem massas de ar que são formadas sobre grandes regiões secas e áridas, como os desertos do Sahara e Sahel, onde ocorrem tempestades de areia que introduzem na atmosfera partículas finas que por sua vez são transportadas pela circulação atmosférica e podem alcançar o Arquipélago da Madeira [1]. Segundo a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT) no ano de 2020 ocorreram 55 dias com previsão deste tipo de eventos naturais no Arquipélago da madeira, em 2021 26 e em 2022 38 dias.
No caso dos dias com ocorrências de “chuva de terra” o transporte de partículas atmosféricas está associado a um centro de baixas pressões, com ocorrência de precipitação. Nesta situação, as poeiras são “lavadas” pela chuva, não havendo tanto impacto na qualidade do ar [1].
Nos dias secos, o mecanismo de transporte destas massas de ar está associado a circulações como fluxos de corrente de leste e sudeste, sem ocorrência de precipitação, a presença destas massas de ar sobre uma região poderá ter impacto na qualidade do ar que respiramos. O impacto depende da intensidade do fenómeno e da concentração de partículas na troposfera. Assim sendo, a monitorização diária destes fenómenos é importante para identificar a contribuição de poluentes naturais no ar que respiramos [1].
Estudos científicos realizados ao nível da Comissão Europeia, no âmbito do Programa Clean Air For Europe (CAFE), revelam efeitos nocivos na saúde devido aos níveis de poluição do ar na Europa [2]. O ozono e as partículas, constituem uma das prioridades europeias na preservação da qualidade do ar.
A dimensão das partículas em suspensão pode variar significativamente e, quanto menor for essa dimensão, maior a probabilidade de penetrar no aparelho respiratório e maiores os efeitos negativos que podem causar. As partículas mais nocivas para a saúde humana são as que possuem um diâmetro aerodinâmico inferior a 10 µm, denominadas PM10, pois podem entrar no sistema respiratório. Dentro das PM10 a fração com diâmetro aerodinâmico inferior a 2,5 µm, denominadas PM2,5, conseguem penetrar no sistema respiratório até ao nível alveolar interferindo no processo respiratório e acarretando risco grave para a saúde [3].
Existem também evidencias que permitem estabelecer uma relação entre a poluição atmosférica por matéria particulada e o aumento de internamentos hospitalares por doenças pulmonares e cardiovasculares (Zanobetti e Schwartz, 2005; Middleton et al., 2008). Em especial as partículas finas (PM2,5) que geralmente contém substâncias perigosas e são capazes de penetrar profundamente no pulmão, provocando a sua inflamação [4].
Em Portugal, os eventos naturais mais comuns são as intrusões de massas de ar contendo partículas e poeiras em suspensão com origem nos desertos do Norte de África, formadas sobre grandes regiões secas e áridas e transportadas pela circulação atmosférica, quando se verificam condições meteorológicas particulares, podendo alcançar regiões distantes e afetar ocasionalmente o território nacional [3].
Neste âmbito e sempre que há previsão, elaborada pela Agência Portuguesa do Ambiente, IP (APA), em parceria com a FCT para a ocorrência de intrusão de massa de ar contendo as partículas anteriormente mencionadas na atmosfera, com possibilidade de afetar a qualidade do ar do Arquipélago da Madeira, a Secretaria Regional de Ambiente, Recursos Naturais e Alterações climáticas divulga esta previsão.
Mais se informa que o Decreto-Lei n.º 102/2010, de 23 de setembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 43/2015, de 27 de março, estabelece o regime da avaliação e gestão da qualidade do ar ambiente, fixando os objetivos para a qualidade do ar ambiente tendo em conta as normas, as orientações e os programas da Organização Mundial da Saúde, destinados a evitar, prevenir ou reduzir as emissões de poluentes atmosféricos.
Face ao anteriormente referido, no caso de ocorrer uma previsão de eventos naturais de partículas atmosféricas a população, particularmente no caso de pessoas com doenças respiratórias crónicas, deverá:
- Manter as portas e janelas dos edifícios fechadas;
- Evitar sair nas horas de maior calor e presença de poeiras;
- Evitar a realização de exercício físico em espaços exteriores;
- Se tiver de permanecer no exterior, por exemplo, a trabalhar, usar equipamento de proteção individual (máscara para cobrir a boca e o nariz) e fazer pausas em ambientes fechados;
- Reforçar a hidratação, com a ingestão frequente de água;
- Cumprir com a medicação conforme prescrita, inclusive a do alívio rápido de sintomas, se necessário (“SOS”);
- Se o agravamento dos sintomas da doença respiratória persistir, procurar aconselhamento no Centro de Saúde da sua área de residência.
Fontes:
[1] –https://qualar.apambiente.pt/node/eventos_naturais
[2] - http://bdjur.almedina.net/citem.php?field=node_id&value=1619516
[3] - https://apambiente.pt/ar-e-ruido/particulas-em-suspensao-pm
[4] - http://bdigital.ipg.pt/dspace/bitstream/10314/3363/1/artigo4%20-Rev13.pdf
[5] - https://www.iasaude.pt/index.php/informacao-documentacao/alertas-de-saude-publica
Previsões de eventos naturais para o Arquipélago da Madeira - 2023