1. A Cláudia regressou aos estudos após alguns anos afastada da escola. Quais as razões que a levaram a se inscrever num processo de reconhecimento e validação de competências (RVCC)?
O início desta caminhada é fruto da conjugação de vários fatores, dos quais destaco a necessidade de realização pessoal e uma infinita sede de conhecimento e de colmatar uma cascata de dificuldades e bloqueios acumulados. Senti que era preciso terminar um percurso que ficou interrompido por motivos alheios à minha vontade e que era urgente ganhar o poder de me defender melhor através do saber. Acredito que as aprendizagens ao longo da vida são uma espécie de prolongamento do nosso braço, ou seja, na medida que recebemos podemos “dar” de uma forma mais assertiva, mais justa. O conhecimento é escudo de defesa pessoal, em contraponto à espada afiada da ignorância. O mundo em que vivemos, transformado numa aldeia global, em que o conhecimento está a um clique do desejo individual, exige que nos preparemos para os desafios desta era, altamente tecnológica e a demandar de cada um de nós formação, adaptação e inovação. Como poderia eu continuar parada no tempo, a olhar para a criança que ficou na estrada com a educação interrompida? A decisão de fazer parte do QUALIFICA libertou-me, desde logo, do grilhão da insegurança e deu-me o passaporte para conseguir pensar de outra forma, ver e ir mais além do ponto, ganhando também outra autonomia. Além destas mais-valias, naturalmente que a certificação das competências é também outra vantagem, uma vez que poderia concretizar o meu sonho de concluir o ensino secundário, subindo um degrau importante na minha formação.
2. Sentiu que esta escolha era, de alguma forma, desprestigiante em relação ao ensino regular?
McLuahan deixou escrito que, o homem cria a ferramenta. A ferramenta recria o homem. Deste modo, acredito que o caminho formativo deve ser trilhado, independentemente do seu “tempo” ou do seu espaço e até mesmo dos preconceitos e clichés, desde que a nossa prioridade seja a educação e a formação.
É sempre possível alterar, reinventar e criar condições concretas para que a caminhada do ensino esteja ao alcance de todos, desde que haja sede de aprender... Como achar desprestigiante a escolha pelo Centro QULIFICA ou por outras casas de sabedoria?Uma vez disseram-me que os filhos são como os dedos das mãos, todos diferentes, mas todos iguais, são nossos. Únicos. Imprescindíveis. Naturalmente que a sociedade em geral estava padronizada para ver no ensino regular a única escola de formação. Mas o tempo tem ensinado que havia e há portugueses com histórias de vida diferenciadas devidos a certos contextos familiares também distintos. Por isso, a necessidade de a educação chegar a todos, independentemente das idades, quebrou mitos, barreiras e preconceitos. As instituições de formação paralelas ao ensino regular estão certificadas e habilitadas a formar uma geração mais madura que passou a ter condições emocionais e económicas para dar espaço à sua formação. O QUALIFICA, com o seu quadro de formadores e oferta educativa é um exemplo de excelência na formação.
Gostaria ainda de referir que, mesmo no ensino regular, as escolas abriram-se aos cursos profissionais e cursos de educação e formação como forma de criar novas oportunidades curriculares a alunos com percursos educativos diferenciados. Logo, o maior preconceito é fechar os olhos às oportunidades. Por fim, acredito que há soluções que acabam surgindo no tempo certo. Como disse Fernando Pessoa, quando há de vir a primavera se não no seu tempo? E este foi o meu!“Se esse é o seu e gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse... porque tudo é real e tudo está certo.” Saí do mundo onírico e, tive o sonho e realidade de mãos dadas. E foi real(mente), indescritível.
3. Que perspetivas lhe foram abertas com este percurso pessoal e profissional, que, entretanto, concluiu?
A grande mais-valia deste percurso pessoal e profissional foi a de ganhar autoconfiança nas minhas capacidades e, de ter uma maior liberdade para conseguir replicar os “saberes” aprendidos.Acreditar sempre que sou capaz mesmo quando certas tarefas me parecerem impossíveis de concretizar. O apoio permanente do meu orientador, dos formadores e a sua infinita dedicação e estímulos levaram-me sempre a dar sempre o passo em frente.
A nível pessoal, olho hoje o mundo de outra forma, com mais segurança e otimismo, apesar dos pesares. Fechei vazios, varri inseguranças da minha alma e comecei a preencher espaços, acreditando que amanhã serei sempre melhor do que hoje.Somos reflexo das nossas aprendizagens e, num mundo que por vezes pode ser insano, saber quem somos, é como “beber” proteção, uma embriaguez que elucida, evitado assim alguns dissabores. Não ouvimos e interiorizamos todos os “ruídos”. No fundo, abriu-me a porta para melhorar continuamente a minha formação, procurando agora outras soluções, nomeadamente a possibilidade de ingressar no ensino superior.
4. Como tomou conhecimento do Centro Qualifica do IQ, IP-RAM?
Descobri o QUALIFICA através de duas grandes pessoas: uma amiga e explicadora de português e outra amiga que trabalha no Instituto de Emprego da Madeira. Ambas são o exemplo da bondade genuína, sempre com os braços abertos para dar a mão a todos aqueles que querem verdadeiramente aprender. Inspirada por ambas, senti-me motivada a entrar nesta “carruagem” contraventos e marés, acreditando que a recompensa seria doce. E foi! Afinal, já diz Fernando Pessoa que, “quem quer passar o Bojador/tem de ir além da dor”.
Infelizmente, muitas vezes, a propaganda institucional que promove as ofertas profissionais nem sempre está ao alcance de todos. Saber que existem pessoas que usam o conhecimento para estender a mão, em vez de criar muros, sem medo de que o outro tenha a arma do conhecimento recarregada, faz-me acreditar num amanhã melhor. Um bem haja a todos os que contribuem de uma forma inexcedível para que a educação esteja ao alcance de todos. O QUALIFICA é também um “mergulho” no vasto universo da cultura geral. Tudo isto concorreu para que me sinta em paz e valorizada. Aliás, também não é por acaso que se diz “Escolhe um trabalho de que gostes e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida”. São tanto os que trabalham sem horário, porque são verdadeiros pedagogos do saber. Eu sou o reflexo dessa pedagogia e sinto que ainda agora comecei a aprender. Estou na estrada do conhecimento e procuro o horizonte, caminhando sempre com a humildade de querer descobrir a eterna novidade de cada dia.