Miguel Albuquerque considera ser fundamental que se perceba quais as razões que levaram à constituição da União Europeia. «Algo de que hoje, infelizmente, não se fala», lamentou.
Aos alunos, o líder madeirense recordou que «a razão da constituição da União Europeia assenta numa tragédia terrível, ou melhor, foi uma sucessão de tragédias que levou à constituição da União Europeia: durante séculos a Europa foi um campo de batalha, entre Nações, entre Estados, entre Principados». E que culminou, na primeira metade do século XX, com as duas tragédias que foram as duas Guerras Mundiais, lembrando os milhões de mortes e deslocados, bem como ainda as doenças, as violações, as execuções, as viúvas e dos órfãos, as cidades destruídas.
Em 1945, quando acabou a II Guerra Mundial, a Europa estava, lembra, destruída. «Foi com o Plano Marshal, dos EUA, que começámos a recuperação», enfatiza. Foi então que se avançou para a constituição de uma comunidade de cooperação, na altura a Comunidade do Carvão e do Aço que rapidamente evoluiu para a Comunidade Económica Europeia.
A União Europeia, disse, «surge habitualmente como uma organização de cooperação económica, mas a base, a matriz, a origem da Europa assenta numa razão política, que é simples: nós temos de cooperar, nós temos de nos ligar, nós temos de nos conhecer uns aos
outros e de termos problemas em resolver em comunhão, para evitar novos divisionismos, novas guerras e novos massacres na Europa».
O governante reforça que «a base da União Europeia é a principal razão para os povos europeus cooperarem entre si». «A Cultura, a Educação, a Civilização, não é um empecilho à barbárie. Os nazis que mataram milhares nos campos de concentração eram pessoas como nós, que iam ao teatro, faziam a sua vida, eram educados, cultos», recorda.
Desta forma, frisa que «todos os instrumentos que estão criados na União Europeia visam evitar que estas situações terríveis de conflitos armados, de guerras, possam surgir».
«A pergunta que se impõe fazer é esta: a União Europeia, até agora, foi um sucesso ou não foi um sucesso? Claro que foi um sucesso! Há quase 60 anos que não existem guerras na Europa, à exceção da guerra na Bósnia, terrível, mas muito localizada e por razões étnicas, e agora a guerra da Ucrânia», defendeu.
Miguel Albuquerque fez ainda questão de alertar as novas gerações: «Se ouvirem um discurso corrente que há por aí, de que se deve ter cuidado com os imigrantes e de que são estes que estão na origem do aumento da criminalidade, de que é preciso assegurar que Portugal não perde soberania, de acusações de traição à Pátria, de que é tudo corrupto, vão perceber que é o mesmo discurso que forças políticas nos anos 30, entre a I Guerra Mundial e a II Guerra Mundial, fizeram na Europa, na sequência da crise na bolsa de 1929».
As crises, avisa, «levam a que o discurso político seja radicalizado e que se explore os sentimentos mais nefastos do ser humano: o ressentimento, o ódio ao outro». «O desconhecido gera o medo, o mero gera a radicalização e a polarização e a exploração dos sentimentos mais nefastos. Já nos anos 30 isso aconteceu. O que depois culminou na II Guerra Mundial», alerta.
Reiterando que «toda a estrutura que é montada na União Europeia visa a cooperação entre os povos, o conhecimento mútuo entre os povos, a articulação de políticas comuns e a coesão social e económica em toda a Europa», lembrou também os apoios que a Região recebeu da Europa, à semelhança de outras regiões mais desfavorecidas, de modo a que pudesse recuperar a sua Economia e aproximar-se dos níveis de desenvolvimento das regiões mais ricas.
Apoios dados, para evitar «novamente clivagens entre povos e nações, porque as desigualdades trazem a polarização e a radicalização». «Se há coesão económica e social, se as pessoas começam a viver bem, estamos numa sociedade menos polarizada e uma sociedade menos radicalizada», sintetiza.
Mas, hoje, diz, estamos perante um problema: «As gerações que têm memória história vivida dessas tragédias, do que foi a ditadura, estão a desaparecer. E os “cantos de sereia” dessas forças populistas estão a aparecer novamente. A História não se repete, mas aprende-se muito com a História. E a História volta, novamente, a nos colocar novos desafios».
Segundo Miguel Albuquerque, os grandes desafios que as novas gerações têm hoje são os de «assegurar uma Sociedade que foi criada no pós-guerra, a do Estado Social, criado pelos partidos sociais-democratas, socialistas e democratas-cristãos, que estão a desaparecer na Europa, sendo substituídos por forças populistas, que propõem um líder forte e autoritário, que é preciso endireitar o mundo, que toda a gente é corrupta, que o sistema está mal, que a
democracia não presta». «A Democracia é um regime imperfeito, mas devem sempre ter medo dos virtuosos», perfilhou.
A concluir, defendeu ser fundamental que as novas gerações leiam e aprendam o que foi a história da Europa.
«Para terem a capacidade de moldarem e saber o que precisam para o futuro. Quem vai construir a nova Sociedade serão vocês. E vocês têm de estar preparados, a nível dos valores, para perceberem para onde é que as Sociedades vão caminhar. Porque esta ideia de sermos tecnologicamente avançados, educados, cultos, não impede que se voltem a repetir as tragédias», avisou.