- Programas de Vigilância Epidemiológica das Infeções
A medição da evolução das taxas de infeções associadas aos cuidados de saúde, de consumo de antimicrobianos e de resistências dos microrganismos aos antimicrobianos, é efetuada continuamente, por estudos de vigilância epidemiológica (VE) de incidência (VE da infeção do local cirúrgico, VE em Unidade de Cuidados Intensivos, VE em Unidade de Cuidados Intensivos Recém-Nascidos, VE das Infeções Nosocomias da Corrente Sanguínea, VE das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde em Cuidados Continuados e Cuidados de Saúde Primários com internamento) e periodicamente, através dos Inquéritos de Prevalência de Infeção (IPI).
A participação das Instituições nos programas de VE, é obrigatória pelo Despacho nº 15423/2013.
Objetivos
- Garantir o cumprimento obrigatório dos programas de VE das Infeções Associadas aos Cuidados de Saúde (IACS) de forma ativa, sistemática e contínua;
- Quantificar o número e o tipo de IACS na RAM;
- Quantificar, monitorizar e divulgar a evolução das IACS na RAM.
Vigilância Epidemiológica da Infeção do Local Cirúrgico
Este Projeto visa contribuir a nível nacional, para a avaliação da incidência da infeção do local cirúrgico nosocomial nos serviços de cirurgia.
Monitoriza, com particular destaque a ocorrência de infeção em intervenções cirúrgicas nas quais a infeção do local cirúrgico é mais frequente, como a cirurgia do cólon, reto ou vias biliares, ou naquelas em que se associa a maior morbilidade, como as cirurgias coronárias, de prótese de anca, joelho ou laminectomias.
Funciona em articulação com o sistema de vigilância europeu HAI-NET (Healthcare-Associated infetions network) coordenado pelo ECDC (European Center for Disease Control), e integra a rede de vigilância epidemiológica europeia TESSy (The European Surveillance System).
Objectivos específicos
- Cumprir com as recomendações existentes para a “boa prática cirúrgica”;
- Corrigir ou melhorar as práticas específicas;
- Implementar e avaliar novas práticas preventivas associadas às infeções do local cirúrgico.
Veja como aceder ao programa:
https://www.dgs.pt/programa-nacional-de-controlo-da-infeccao/vigilancia-epidemiologica/hai-net-ilc.aspx
Vigilância Epidemiológica da Infeção Nosocomial em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI)
Este programa de vigilância das infeções é aplicável às Unidades de Cuidados Intensivos de nível III.
Funciona em articulação com o sistema de vigilância europeu HAI-NET (Healthcare-Associated infetions network) coordenado pelo ECDC (European Center for Disease Control), e integra a rede de vigilância epidemiológica europeia TESSy (The European Surveillance System).
Objetivos
- Conhecer a incidência das IACS mais importantes nas UCI;
- Conhecer a evolução da flora responsável pelas IACS nas UCI, individual e colectivamente, e respectivos padrões de sensibilidade e resistência aos antimicrobianos;
- Avaliar a epidemiologia de infeções emergentes;
- Comparar as taxas de IACS relacionada com procedimentos invasivos - entubação traqueal, ventilação mecânica e cateteres venosos centrais e urinários (traqueobronquites, pneumonia, infeção da corrente sanguínea, infeções urinárias);
- Monitorizar o consumo de antimicrobianos nas UCI;
- Contribuir para a criação de uma base de dados de registo de IACS, a nível nacional, que permita ainda comparar os dados locais, com os nacionais e com os europeus.
IACS objeto de estudo
- Pneumonia associada à intubação;
- Traqueobronquite;
- Bacteriemia relacionada com cateter venoso central;
- Infeção do trato urinário relacionada com cateter vesical.
Veja como aceder ao programa:
https://www.dgs.pt/programa-nacional-de-controlo-da-infeccao/vigilancia-epidemiologica/hai-net-uci.aspx
Vigilância Epidemiológica das Infeções nas Unidades de Cuidados Intensivos de Recém-Nascidos
É um programa de vigilância epidemiológica contínuo, aplicável às Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais de nível III.
É uma vigilância epidemiológica portuguesa que se baseia em protocolos e plataformas nacionais, os quais geram dados dirigidos à realidade nacional.
Objetivos
- Conhecer a incidência da infeção nestas Unidades, em função da exposição ao factor de risco;
- Determinar a razão e utilização dos dispositivos invasivos em função do total de dias de internamento;
- Determinar as taxas de infeção e a sua distribuição por local;
- Comparar o desempenho entre UCIN, relativamente aos parâmetros atrás descritos;
- Utilizar a VE para sensibilizar os profissionais de saúde para a adopção de medidas de controlo da IACS, cumprimento das normas de boas práticas e melhorar a qualidade da colheita e registo de dados.
IACS objeto de estudo
- Sépsis;
- Pneumonia;
- Enterocolite necrosante;
- Meningite.
Veja como aceder ao programa:
https://www.dgs.pt/programa-nacional-de-controlo-da-infeccao/vigilancia-epidemiologica/infecoes-nas-uci-de-neo-natais.aspx
Infeções Nosocomiais da Corrente Sanguínea (INCS)
As infeções nosocomiais da corrente sanguínea (INCS) são das infeções adquiridas no hospital que mais contribuem para a morbilidade e mortalidade hospitalar e para o aumento de custos na prestação de cuidados de saúde.
Este programa tem como objetivo a monitorização das infeções da corrente sanguínea adquiridas nas Unidades de Saúde, através de um protocolo padronizado.
IACS objeto de estudo
- Primárias (relacionadas com cateter venoso central ou com foco desconhecido);
- Secundárias (relacionadas com foco que não o cateter venoso central).
Veja como aceder ao programa:
https://www.dgs.pt/programa-nacional-de-controlo-da-infeccao/vigilancia-epidemiologica/infecoes-nosocomiais-da-corrente-sanguinea.aspx
Vigilância Epidemiológica das Infeções adquiridas em Unidades de Cuidados Continuados Integrados
Este programa efetua a vigilância epidemiológica das infeções nos utentes internados em Centros de Saúde e em Cuidados Continuados, que aí permaneçam pelo menos 24h ou dois dias de calendário consecutivos.
Objetivos
- Determinar a incidência das IACS mais significativas (com destaque para as infeções relacionadas com os dispositivos invasivos): respiratória, urinária, corrente sanguínea e relacionadas com outros procedimentos clínicos, relevantes para o aparecimento da infecção;
- Efetivar a vigilância epidemiológica da infeção da ferida cirúrgica com seguimento dos doentes cirúrgicos em convalescença, dando informação de retorno aos hospitais donde provêm os doentes, se ocorrer esta infeção após a alta hospitalar;
- Efetuar a vigilância epidemiológica prospetiva e contínua da incidência dos microrganismos epidemiologicamente significativos em toda a unidade de saúde;
- Efetuar a vigilância epidemiológica e controlo das resistências dos microrganismos aos antimicrobianos;
- Participar no inquérito de prevalência de infeção de âmbito nacional.
IACS objeto de estudo
- Infeções do local cirúrgico;
- Infeções das vias urinárias;
- Infeções da corrente sanguínea;
- Infeções das vias respiratórias;
- Infeções cutâneas;
- Infeções gastrointestinais.
Para aderir ao Programa contacte o GCPPCIRA-RAM: drs@madeira.gov.pt
- Programa de Vigilância Epidemiológica das Resistências aos Antimicrobianos
A progressiva eliminação de estirpes suscetíveis aos antibióticos mais utilizados e consequente seleção das resistentes, bem como a transmissão das resistências por estas estirpes para outras previamente sensíveis, são mecanismos biológicos de adaptação particularmente efetivos em grande parte das bactérias.
Tratando-se de um processo de ocorrência expectável e natural, a seleção de estirpes resistentes tem sido potenciada pela utilização frequentemente inapropriada dos fármacos antimicrobianos.
Na prática, o aumento das taxas de resistência significa que, perante uma infeção provocada por um determinado microrganismo, é maior a probabilidade desse microrganismo ser resistente aos antibióticos habitualmente utilizados, sendo a infeção apenas tratável por fármacos de mais largo espetro, por sua vez com maior potencial gerador de resistências.
A inversão desta perigosa espiral é um dos principais objetivos do trabalho de prevenção e controlo de IACS e de reação adversa ao medicamento (RAM).
A vigilância epidemiológica do perfil de resistência dos microrganismos aos antimicrobianos é de extrema importância, de forma a identificar precocemente determinados microrganismos com maior perfil de resistência e implementar medidas de prevenção e controlo da infeção e promoção do uso mais racional de antimicrobianos.
A VE da resistência é obrigatória pelo Despacho 15423/2013.
Esta VE é efetuada pelos Grupos Locais com a colaboração dos Laboratórios de Microbiologia/Patologia Clínica.
Microrganismos “Alerta” e “Problema”
Estudo da incidência e perfil de resistência aos antimicrobianos dos microrganismos patogénicos "Alerta" e "Problema" isolados no sangue e liquor.
Os dados de cada Instituição/Laboratório são enviados para a rede nacional e para a rede de vigilância epidemiológica europeia de resistência aos antimicrobianos, enviando anualmente dados representativos da realidade portuguesa para o sistema European Antimicrobial Resistance Surveillance Network (EARS-Net), coordenado pelo European Center for Disease Control.
Consideram-se microrganismos “problema”, os microrganismos que causam frequentemente doença e com taxas de resistência epidemiologicamente significativa.
Microrganismos “problema” notificados [sangue e líquido cefalorraquidiano (LCR)]:
- Pseudomonas aeruginosa;
- Acinetobacter spp.;
- Enterobacterales;
- Staphylococcus aureus;
- Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium;
- Streptococcus pneumoniae.
Consideram-se microrganismos “alerta”, os que apresentam um padrão de resistência ou resistência intermédia pouco habitual ou de baixa prevalência na Unidade de Saúde e que, por esta razão, implica implementar medidas urgentes para a sua contenção.
Microrganismos “alerta” notificados (isolados em qualquer produto):
- Staphylococcus aureus com resistência à vancomicina (VRSA);
- Staphylococcus aureus com resistência ao linezolide;
- Staphylococcus aureus com resistência à daptomicina;
- Enterococcus faecium e Enterococcus faecalis com resistência ao linezolide;
- Enterobacterales com resistência adquirida à colistina;
- Enterobacterales com resistência à ceftazidima-avibactame;
- Pseudomonas aeruginosa com resistência à colistina;
- Pseudomonas aeruginosa com resistência ao ceftolozane-tazobactam;
- Acinetobacter spp. com resistência à colistina.
Microrganismos “alerta” notificados (isolados em amostras invasivas):
- Enterobacterales com resistência aos carbapenemes; e/ou presumíveis produtores de carbapenemases.
Veja como aderir ao Programa
Norma da DGS Nº 004/2013 de 08/08/2013 atualizada a 27/07/2022 - Vigilância Epidemiológica das Resistências aos Antimicrobianos.
Cartas Microbiológicas
Esta vigilância estuda a incidência e perfil de resistência aos antimicrobianos de todos os microrganismos patogénicos isolados nas amostras biológicas, numa determinada instituição de saúde ou serviço.
É efetuado pelos Serviço de Patologia Clínica das instituições de Saúde ou por Laboratórios de Patologia Clínica, quando externos às instituições.
A análise do perfil de sensibilidade e resistência dos microrganismos aos antimicrobianos, permite monitorizar as resistências dos microrganismos aos antimicrobianos e relacioná-las com os consumos de antibióticos. Permite construir as Cartas Microbiológicas, de fundamental importância para o conhecimento da flora local, ajudando a orientar a terapêutica empírica.
Objetivos:
- Conhecer os microrganismos responsáveis pelas infecções (da comunidade e IACS)
- Conhecer o comportamento “in vitro” dos microrganismos aos agentes antimicrobianos
- Divulgar o aparecimento de novos mecanismos de resistência
- Facilitar a escolha empírica da terapêutica antibiótica
Prevenção da Colonização/Infeção por MRSA
O Staphylococcus aureus é uma bactéria comensal que coloniza as narinas (reservatório primário), axilas, faringe e/ou superfícies cutâneas lesadas. Estima-se que possa colonizar a pele em até 30% dos indivíduos saudáveis. Esta bactéria apresenta capacidades únicas de invadir e provocar doença em tecidos previamente saudáveis em qualquer local do corpo humano. As infeções podem surgir quando ocorre uma solução de continuidade na pele ou mucosas, que permita o acesso da bactéria aos tecidos vizinhos ou à corrente sanguínea. Estão particularmente em risco: pele e tecidos moles, aparelho respiratório, osso, articulações e corrente sanguínea. O risco de infeção aumenta com a presença de material protésico, incluindo cateteres intravasculares.
Atualmente, o MRSA é uma das principais causas de infeções associadas aos cuidados de saúde. É responsável por acréscimo de dias de internamento, da mortalidade e dos custos.
A identificação de utentes com fatores de risco para MRSA, a implementação de medidas de isolamento de contacto e o rastreio ativo, permitem identificar os utentes colonizados ou infetados e descolonizar ou tratar estes doentes.
Consultar Norma Nº018/2014 de 09/12/2014, atualizada em 27/04/2015 - Prevenção e Controlo e Infeção por Staphylococcus resistentes à meticilina (MRSA) nos hospitais e unidades de internamento de cuidados continuados integrados.
https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0182014-de-09122014.aspx
- Programa de Vigilância Epidemiológica Europeia de Consumo de Antimicrobianos
Sabemos que em Portugal o consumo de Quinolonas na comunidade e de Carbapenemos nos hospitais, é elevado e é superior à média europeia e que a utilização irracional e elevada de antimicrobianos está associada ao aumento da resistência dos microrganismos aos antimicrobianos. As Classes com maior consumo são a das Quinolonas, na comunidade e a dos Carbapenemos, nos hospitais.
A monitorização dos consumos de antimicrobianos permite detetar desvios de utilização dos mesmos, relacionar o consumo com as resistências permitindo intervir de forma mais adequada.
Portugal participa na Vigilância Epidemiológica Europeia de Consumo de Antimicrobianos (ESAC-Net). A RAM aderiu à vigilância em 2018.
Esta vigilância tem a colaboração de Serviços Farmacêuticos, das Comissões de Farmácia e Terapêutica dos Hospitais e da RAM, dos GCPPCIRA locais, do IASAUDE e do Infarmed.
Recomendações para utilização racional de antimicrobianos e redução das resistências
- Ponderar sempre o risco/benefício, antes do início dos antimicrobianos
- Aplicar as recomendações gerais na prescrição antibiótica
- Efetuar colheitas microbiológicas, dirigidas ao foco presumível de infeção, antes do início dos antimicrobianos
- Efetuar antibioterapia apropriada (eficaz contra o agente presumido e com boa penetração no local de infeção)
- Efectuar antibioterapia adequada (dose correta, via de administração, intervalo, início e duração, adequadas)
- Otimizar a terapêutica em doentes graves
- Evitar o uso de quinolonas, cefalosporinas e carbapenemos
- Reavaliar a antibioterapia, com base na resposta clínica e microbiológica e efetuar a de-escalação (ex: ajustar a dose, passagem da via intravenosa para oral ou até mesmo a sua suspensão, quando a infeção não foi comprovada)
- Prescrever os antimicrobianos com o apoio do Programa de Assistência à Prescrição de Antimicrobianos (PAPA)
- Utilizar profilaxia antibiótica cirúrgica em dose única e em raras situações, até às 24h
- Reportar todas as reações adversas ao medicamento (RAM), no Portal RAM https://extranet.infarmed.pt/page.seram.frontoffice.seramhomepage
Consulte os Dashboards:
Evolução do Consumo de Antimicrobianos em Ambulatório
Evolução do Consumo de Antimicrobianos no Sector Público Hospitalar