A edição de 2017 do Festival Raízes do Atlântico, evento organizado pela Secretaria Regional da Economia, Turismo e Cultura, através da Direção Regional da Cultura e com direção artística de Nuno Barcelos, chega ao fim neste sábado, numa noite em que serão privilegiados os sons da Macaronésia e que será encerrado com chave-de-ouro com o concerto da diva brasileira Elza Soares.
A terceira e última noite do Festival abre às 20 horas com a atuação de músicos dos arquipélagos vizinhos Madeira e Canárias: Guilherme Órfão e Beselch Rodriguez.
A história deste concerto começou já em 2016, quando Guilherme Órfão levou a música da Madeira a Canárias num concerto de fusão das duas regiões com o conhecido músico Canarino Beselch Rodriguez. Sob o tema “Timple meets Madeira”, foi um concerto muito falado pela imprensa de Canárias ou não seria Beselch uma das referências do Timple (instrumento tradicional de Canárias).
Na noite deste sábado, a Madeira terá a oportunidade de ver e ouvir esta união de ilhas que teve o grande patrocínio do próprio Governo de Canárias que assumiu a viagens dos vários músicos de Canárias para o festival Raízes do Atlântico.
Acontece assim na última noite do Raízes do Atlântico, um dos concertos que melhor simboliza o festival, com a nova geração da música da Madeira a encontrar semelhanças e diferenças com uma região tão próxima, Canárias.
Sobre os protagonistas deste concerto, é possível dizer que ambos são músicos que sempre exploraram as tradições das suas ilhas e respetivos instrumentos, ambos procuraram trazer outras sonoridades a estas mesmas tradições.
Guilherme Órfão começou a tocar Instrumentos Tradicionais Madeirenses aos 7 anos, inicialmente braguinha e depois rajão e viola de arame. Passou pelas melhores escolas de música tradicional da Madeira e foi com a prática dos cordofones que integrou a Orquestra de Ponteado e o Si que Brade.
Recentemente tem divulgado os cordofones madeirenses por palcos nacionais e internacionais com o seu projeto a solo.
Beselch nasceu em Tenerife e descobriu o Timple (instrumento tradicional de Canárias) desde muito cedo quando o seu avô o iniciou no mundo do folclore e da música tradicional. Desde então já trabalhou com várias formações, editou três discos e atuou em vários festivais. Beselch já teve o reconhecimento do próprio governo de Canárias como um dos máximos representantes da nova geração de timplistas.
Às 21h30, uma viagem para outras ilhas, os Açores, com Medeiros/Lucas.
Medeiros/Lucas são Carlos Medeiros e Pedro Lucas, dois ilhéus separados, em idade, por trinta anos de desventuras em torno das suas raízes musicais, Medeiros traz o sal na voz e a capacidade inigualável de cantar histórias e tradição do cancioneiro Açoriano, Medeiros é um dos músicos mais respeitados da música tradicional Açoriana, Lucas junta-lhe a irreverência e juventude da guitarra e das programações eletrónicas, do jazz e do rock.
Esta dupla de músicos dos Açores são a prova viva de que não só do mundo tradicional vivem as ilhas de Portugal.
Com dois álbuns de originais têm sido fortemente elogiados pela forma feliz como cruzam recolhas tradicionais açorianas com linguagens sonoras modernas, Aliás os dois álbuns de originais de 2015 e 2016 foram incluídos nos melhores do ano pela impressa nacional e, segundo alguns organismos, serão álbuns incontornáveis da história da música em Portugal.
Ambos já haviam marcado presença no Festival Raízes com o excelente projeto “Experimentar Na M'Incomoda”, e agora apresentam aquele que é um dos mais aclamados projetos nacionais.
Finalmente, pelas 23 horas, um dos concertos mais esperados da edição deste ano do Raízes do Atlântico: o de Elza Soares.
Considerada um dos maiores ícones da música brasileira, autora do recente muito celebrado e elogiado “A Mulher do Fim do Mundo” vencedor do melhor álbum do ano de 2015 pela Rolling Stone, vencedor do Grammy Latino, e incluído nos 10 melhores álbuns do ano do New York Times, entre tantos outros prémios, Elza Soares é considerada um dos maiores tesouros da cultura Brasileira.
No prestigiado Guardian escreveu-se que para Elza o tempo parece não pesar. A viúva da lenda dos relvados Garrincha, mãe aos 13 anos que teve que suportar a indiscritível dor de perder vários filhos, nascida no meio do samba numa favela do Rio, foi descoberta aos microfones da rádio pelo grande Ary Barroso e foi coroada rainha dos morros ainda os anos 50 não se tinham extinguido. Ao longo das décadas, esta mulher de armas viu-se aplaudida e criticada em igual medida. A BBC descreveu-a mesmo como a voz brasileira do século, em 1999.
Mesmo assim surpreendeu com “A Mulher do Fim Mundo”, um álbum de uma vida, apocalíptico, de samba “sujo”, experimental e que literalmente ganhou tudo o que podia ganhar.
Diva da bossa negra, mulher furacão e cantora do milénio são apenas algumas das designações atribuídas a Elza Soares que encerrará o Raízes com um concerto certamente irrepetível e absolutamente imperdível.