Pesquisar

SMAL - Setembro Mês da Alfabetização e das Literacias

SMAL: O contributo da formação contínua de professores no combate à iliteracia 27-09-2023 Direção Regional de Educação
SMAL - Setembro Mês da Alfabetização e das Literacias

SMAL

 

Numa sociedade cada vez mais competitiva e em constante e rápida mudança, o direito à educação, à formação e à aprendizagem ao longo da vida, consagrado no princípio 1 do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, reitera a importância e a necessidade absoluta da aprendizagem ao longo da vida para assegurar um maior desenvolvimento económico e social, desenvolver o espírito crítico, reforçar a participação ativa dos cidadãos e assegurar a coesão social.

Neste contexto, continuamos a apostar na educação e formação de adultos, regulamentada e cofinanciada pelo Estado, nas suas variadas vertentes: os cursos EFA, o sistema de RVCC e a formação modular que consta do CNQ - Catálogo Nacional de Qualificações da responsabilidade, orientação e regulação da ANQEP – Agência Nacional para Qualificação e o Ensino Profissional.

 

Os aprendentes adultos, conscientes da necessidade de aquisição de mais conhecimento e da certificação das suas aprendizagens e aptidões, regressam, timidamente, a uma sala de aula que muitos abandonaram há décadas e à qual retornam pelos mais variados motivos: para aprimorar as suas competências com o objetivo de continuarem empregáveis e fazerem face aos desafios da sociedade do século XXI; para promover o seu desenvolvimento pessoal ou profissional, ou, tão simplesmente (e talvez mais importante), para cumprir um sonho!

 

Neste percurso formativo, que contempla o desenvolvimento das diferentes literacias (digital, científica, literacia em saúde, etc), os adultos também têm a oportunidade de experienciar momentos de aprendizagem que fomentam uma série de competências que, em certa medida, podem provar-se mais importantes que os conteúdos programáticos: resiliência; abertura ao Outro e à diferença; espírito crítico; disponibilidade e acolhimento criativo; escuta e relacionamento empático; presença e afirmação própria; gosto pela interatividade humana; uso da espontaneidade, da sensibilidade, do equilíbrio emocional, da criatividade e do espírito de iniciativa; predisposição para favorecer a entreajuda, a solidariedade e a cooperação; curiosidade intelectual e artística; sentido ativo da liberdade e da responsabilidade,….

 

Com efeito, a educação de adultos, tema prioritário do Espaço Europeu da Educação para o período de 2021-2030, assume-se como fundamental num mundo digital, recheado de desafios, onde a fronteira entre o real e o virtual é cada vez mais ténue, onde a Inteligência Artificial conquista o seu espaço e cujo impacto, não podemos negar, é já significativo.

 

Uma Europa mais justa e mais inclusiva também se constrói com o contributo da Educação e Formação de Adultos. Assim sendo, em termos formativos, como podemos preparar estes agentes educativos para um futuro que já chegou?   

 

Webgrafia:

https://education.ec.europa.eu/pt-pt/education-levels/adult-learning/adult-learning-initiatives

 

Algumas reflexões de profissionais que desenvolvem a sua atividade na área da Educação e Formação de Adultos

 

1) Na sua opinião, existe um perfil específico do formador dos Cursos de Educação e Formação de Adultos?

2) Quais os principais desafios dos formadores enquanto agentes educativos/ facilitadores da aprendizagem?

3) Em termos de formação, se pretendesse promover o seu desenvolvimento profissional e/ou pessoal na Educação e Formação de Adultos, por que área de formação optaria? (o que precisa aprender para se tornar um profissional melhor/mais competente?)

 

Carla Escórcio Rebolo - Adjunta na Área Pedagógica 

Instituto para a Qualificação, IP-RAM - Escola Profissional Dr. Francisco Fernandes

 

1) Não falaríamos de um perfil, mas sim de características fundamentais num formador de adultos, tal como a capacidade de pautar as suas aulas (linguagem, atividades, materiais) de forma adequada/ajustada ao perfil de adulto, pautar o seu ensino por uma metodologia ativa, entre outras.

 

2) Sermos capazes de conciliar as várias faixas etárias, os ritmos e necessidades de aprendizagem e a experiência de vida dos formandos.

 

3) Formação em metodologias ativas de aprendizagem, ferramentas digitais e avaliação formativa.

 

Henrique Amorim da Silva 

Coordenador dos Cursos EFA da Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos do Caniço 

 

1) Apesar de os docentes saírem das Universidades com habilitações para lecionarem diferentes níveis de ensino, acredito que, na verdade, nem todos têm aquele “jeito” especial para lidar com adultos. A maior parte está mais adaptada ao ensino de crianças e jovens, até mesmo com grande experiência na prática pedagógica, e quando lhes são atribuídas horas de lecionação a cursos de adultos, seja por falta de apetência para este tipo de ensino, falta de garantia de previsibilidade ou carências ao nível da andragogia, os resultados nem sempre são os mais esperados. […] Há que desconstruir certos preconceitos e valorizar mais os conhecimentos e experiências/vivências que os adultos trazem ao longo das próprias vidas. Ainda outro fator com um peso muito significativo e que exige maior cuidado por parte do formador reside na diferença entre conseguir mudar o ponto de vista/preconceitos sobre determinados assuntos, quando se trata de uma criança e, no caso dos adultos, bem mais complicado neste último caso. Por outro lado, e ainda que não seja menos verdade persistir uma grande escassez de ações formativas na área da educação e formação de adultos, na minha opinião, por si só, não é suficiente para que se possa admitir não haver um perfil específico do formador dos Cursos de Educação e Formação de Adultos. Acima de tudo, é preciso gostar do que se faz, ter criatividade e procurar valorizar sempre esta área da educação, imunes a mentes mais retrógradas e/ou pessimistas. 

 

2) Em termos gerais, os maiores desafios continuam a se prender com o “alargar os horizontes” dos formandos, conseguir alterar pontos de vista, mudar mentalidades, enriquecer culturalmente as pessoas e fazê-las integrarem-se numa sociedade pró-ativa, como cidadãos intervenientes, seres pensantes e críticos e a interessarem-se/participarem em discussões de interesse público, por forma a imprimir o desenvolvimento social e a capitalizar para o desenvolvimento global da Região e do próprio país. Em particular, no caso dos formandos adultos, um enorme desafio passa por incutir junto aos mesmos o gosto pela aquisição de níveis crescentes de habilitações literárias, extinguir medos e resignações, fazê-los pensar que o ensino universitário não é algo proibitivo e distante, criar e sedimentar novas aspirações e, desta forma, fazer passar, igualmente, esta mudança de paradigma para as gerações descendentes. Na prática, pretende-se, em termos metafóricos, lapidar uma pedra para que se transforme num diamante. Não é de se esperar que o formando saiba de cor os nomes de todos os ossos do corpo humano ou todos os elementos químicos da Tabela Periódica. Interessa é que saiba encontrar a informação de que necessita, refletir sobre a mesma, tomar decisões criticamente conscientes e adquirir poderes de argumentação consistentes que os permitam progredir no sentido da sua própria evolução. 

 

3) Sem querer desmerecer polos de formações importantes, inclusive para os cursos de adultos, como é o caso do uso das novas tecnologias, entre outros, e cuja oferta aos docentes se têm multiplicado ao longo dos anos, no meu entender a promoção do desenvolvimento profissional e/ou pessoal na Educação e Formação de Adultos deve passar pela área da andragogia e ensino não formal/informal/aprendizagem ao longo da vida. Entretanto, são conteúdos, infelizmente, ainda muito deficitários em termos de oferta formativa aos docentes, pelo menos a nível nacional.  

Através do Projeto Erasmus+ que dinamizamos, na área da educação de adultos, conseguimos ter acesso a estes temas de formação, através de mobilidades realizadas, ainda que no estrangeiro. Por outro lado, julgo igualmente tratar-se de um poderoso fator impulsionador deste tipo de ensino a possibilidade de criação de momentos de reflexão e partilha de experiências de docentes que se encontram a lecionar nesta área, provenientes de diferentes estabelecimentos de ensino, como de um fio condutor se tratasse e orientasse os formadores que, não raras vezes, se sentem perdidos e fechados em suas organizações, como verdadeiras ilhas, algo que não é, certamente, positivo para a evolução do setor. Num meio em que a própria legislação a respeito, por vezes, é confusa e omissa, é fundamental a comunicação entre as instituições e colher boas práticas para que os objetivos, já referidos, sejam amplamente atingidos. 

 

José Xavier Dias

Coordenador dos Cursos EFA da Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos da Torre 

 

1) A questão do perfil para formador de Cursos de Educação de Adultos e outras ofertas formativas para adultos é sempre motivo de muita discussão e, infelizmente, em Portugal não existe regulação nesse sentido. Assim, na minha opinião, deveria primeiramente haver uma regulação nacional e, posteriormente, apostar-se na formação inicial de professores e na formação contínua dos mesmos.

Tendo em conta que a grande maioria dos professores que trabalha com adultos (EFA, FM, PLA, Competências Básicas, entre outras) e também dos envolvido nos processos de RVCC terem idades superiores a 40 anos e estarem há longos anos na carreira docente, o ideal será apostar-se na formação continua. Paralelamente, cabe aos órgãos de gestão, após ouvidos os coordenadores das ofertas formativas para adultos, indicar os docentes que primeiramente se sintam motivados para trabalhar com estes públicos e que possuam formação contínua nestas áreas.

 

2) São muitos os desafios que os formadores e agentes educativos envolvidos na educação e formação de adultos, primeiramente, a falta de formação inicial e também a grande escassez de formação contínua. Segundo, o facto de, na sua grande maioria, os envolvidos na educação de adultos terem componente letiva em regime noturno causa um maior desgaste. De referir ainda que se verifica, repetidamente, que formadores de adultos também lecionam outros níveis e de educação, o que não é produtivo.

A educação de adultos deve deixar de ser o parente “pobre” nas escolas ou instituições e deve ser vista como uma grande mais valia, porque estamos a formar adultos aos quais o sistema vigente, por diversas razões, não deu resposta e a aposta na aprendizagem ao longo da vida é uma mais valia para o bem-estar coletivo.

Apesar de algumas melhorias legislativas, a formação de adultos deve ser ainda mais flexível e as instituições devem olhar para esta oferta formativa com outros olhos, dando mais condições aos docentes.

 

3) A formação contínua deve ser encarada de uma forma holística e o envolvido nos processos de aprendizagem ao longo da vida deve munir-se de um conjunto de ferramentas que auxilie os docentes a lidar com os aprendentes. A formação contínua dos mesmos deve passar pelas questões curriculares das áreas em que leciona, pelas questões didático-pedagógicas e, sobretudo, pelas questões da cidadania, da sustentabilidade e do combate às diferentes iliteracias.

A formação fora do meio circundante e em contexto europeu ou mundial será sempre uma grande mais valia para quem lida com adultos.

No caso da Região Autónoma, seria útil proporcionar reuniões entre as estruturas que trabalham nas escolas com os adultos (Conselhos Executivos, Coordenadores de EFA, Mediadores, entre outros) e a tutela, assim como grupos de trabalho entre os docentes das diferentes escolas. O envolvimento de parceiros locais também é uma grande mais valia para o processo de aprendizagem ao longo da vida.

 

Juan Manuel de Freitas

Coordenador dos Cursos EFA da Escola Básica com Pré-Escolar Dr. Eduardo Brazão de Castro

 

1. Na minha opinião, não existe um perfil específico para o formador dos Cursos EFA, todos os professores/formadores apresentam uma grande capacidade de adaptação em contexto de sala de aula a novas situações, como por exemplo, formandos que já não frequentam a escola há muitos anos. Qualquer professor/formador apresenta capacidades de conduzir satisfatoriamente o processo de aprendizagem, permitindo assim, a aquisição de competências essenciais por parte dos formandos.

 

2. O foco e principal desafio são as aprendizagens dos alunos /formandos, enfatizo sobre a importância da aplicação, por parte de todos os professores/formadores, da avaliação formativa, valorizando-se mais, com esta modalidade de avaliação, os processos em detrimento dos resultados, tornando o aluno/formando protagonista da sua aprendizagem, permitindo diferenciar o ensino,  possibilitando  ao professor/formador reorientar a sua atividade, através das informações colhidas, e servindo ao aluno/formando para autorregular as suas aprendizagens, consciencializando-o de que a aprendizagem é um produto a construir, e de que ele próprio tem um papel fundamental nessa construção. A avaliação formativa, como todas as modalidades de avaliação adotadas pelo sistema, tem uma função de regulação, facilitando a construção de itinerários pessoais de formação, introduzindo os alunos nos mecanismos da aprendizagem, da construção do saber e nas regras da convivência democrática.

 

3. Formação nas áreas das novas tecnologias, adaptadas para o ensino de adultos.

 

Pedro Ferreira da Costa

Coordenador dos Cursos EFA da Escola Básica e Secundária de Santa Cruz

 

1) Na minha opinião, o perfil de um formador de Cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA) pode variar dependendo das necessidades específicas do programa, dos formandos e do contexto educacional. No entanto, existem algumas características e qualificações gerais, que, de acordo com as leis vigentes para este tipo de cursos, têm de ser cumpridas por parte do órgão de gestão da entidade/escola que facultam estes cursos. 

É, também, importante que os formadores sejam capazes de se adaptar e aprender continuamente para atender às necessidades em constante mudança dos formandos, assim como, devem ser empáticos e pacientes para apoiá-los ao longo do curso. 

 

2) Existem vários desafios, mas destaco como principais desafios que os formadores se deparam, os seguintes: 

- A diversidade de formandos, desde os diferentes níveis de conhecimento até às diferentes faixas etárias. 

- A motivação dos formandos, os formadores precisam encontrar maneiras de tornar o conteúdo relevante e interessante para os formandos. 

- A tecnologia e recursos, os formadores podem enfrentar desafios relacionados com integração de tecnologias no seu processo de ensino. A falta de acesso a recursos tecnológicos também pode ser um problema. 

  

3) Nos cursos EFA, a formação depende muito dos interesses e objetivos pessoais dos formadores, que ministram este tipo de cursos. Mas, como coordenador dos cursos EFA, tenho vindo a observar ao longo destes anos que os colegas que já lecionam também há muitos anos o ensino noturno têm necessidade de formações ao nível da comunicação, das relações interpessoais, de técnicas e de metodologias de ensino, na avaliação dos diferentes formandos, entre outras.

 

Links úteis:

APEFA – Associação Portuguesa de Educação e Formação de Adultos

https://smal.apefa.org.pt/

LER+ Plano Nacional de Leitura

https://www.pnl2027.gov.pt/np4/smal.html


Este sítio utiliza cookies para facilitar a navegação e obter estatísticas de utilização. Poderá consultar a nossa Política de Privacidade aqui.