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N.º 62 - 20 anos de partilha

janeiro a junho de 2023 10-08-2023 Direção Regional de Educação
N.º 62 - 20 anos de partilha

A Revista Diversidades chega ao número 62, isto é, criada em 2003, chega à segunda década da sua existência. E isso exige uma comemoração… Significa que tivemos sucesso na nossa missão inicial, definida há alguns anos, num contexto muito diferente de hoje: “disponibilizar, ao público em geral, conhecimento atual, bem como ações e práticas realizadas no âmbito da Educação”, “fomentar o debate científico e profissional, o intercâmbio de ideias, e difundir as opiniões de especialistas que proporcionem melhorias ao nível das práticas educativas e formativas”.

O brinde a este aniversário faz-se com a “oferta” desta edição especialíssima, com a temática “20 anos de partilha”, contendo assuntos tão diversos quanto pertinentes sobre o processo educativo.
Começamos com um olhar sobre o Sistema Educativo Regional onde desde que foi possível “dispor de autonomia política e administrativa”, a Madeira tem vindo a progredir “de modo altamente satisfatório”, com uma evidente “marca do progresso”, onde as novas gerações têm encontrado “respostas formativas que passaram a estruturar os respetivos projetos”. O Advento do século XXI, com os diversos investimentos realizados, viu “nascer” uma nova escola, onde a todos, sem exceção, passaram a ser “asseguradas as condições para um percurso escolar marcado pelas referências de inovação e qualidade das aprendizagens” e pelo “desígnio do direito ao sucesso”, num constante desafio de “prosseguir a elevação das habilitações das novas gerações”. Uma das formas de concretização deste desígnio tem sido através do “Plano Estratégico para a Inovação Educacional nas escolas da Região Autónoma da Madeira (RAM)”, coordenado pela Direção Regional de Educação, que se constitui um referencial estratégico de educação para a RAM que “coloca o enfoque na necessidade de implementação de medidas específicas de política educativa que permitam atingir as metas da diversificação e elevação das qualificações académicas e profissionais nomeadamente no âmbito das competências digitais da população escolar regional”. Assim, as diferentes áreas/domínios em que este Plano se organiza e se desenvolve vai promover um Sistema Educativo Regional, cada vez mais “proativo, inovador, inclusivo, autónomo, justo e aberto, disponibilizando uma aprendizagem de qualidade e uma formação e qualificação, que preparem as crianças e jovens para responderem aos desafios do século XXI”. Convictos da urgência de “construir um novo conceito de escola”, este Plano vai repensar a forma como as novas tecnologias podem contribuir para a “atualização” do processo educativo, para envolver todos os agentes educativos num processo de reflexão sobre as suas práticas e sobre o papel e os efeitos que o digital e as novas tecnologias podem produzir na transformação dos processos de ensino e aprendizagem, no sentido de promover o sucesso educativo e a qualidade das experiências de ensino e das aprendizagens.

Assume-se e partilha-se, deste modo, a perspetiva da "necessidade e urgência de se conseguir uma transformação radical da educação formal", colocando a tónica na aprendizagem, onde são os alunos, cada vez mais, os principais protagonistas deste processo, que definem as suas próprias metas e escolhem os caminhos para as concretizar. E neste percurso, enquanto espécie de "navegantes, têm apoio e acompanhamento de "agentes da comunidade - professores ou não - para os ajudar a alcançar as competências inscritas numa bússola personalizada, ferramenta ideal para se orientarem e encontrarem sentido(s) num "mundo cada vez mais complexo, incerto e volátil".

Porém, neste contexto, parece-nos importante insistir na "velha" ideia de que o aprender não deve acontecer nem "desvinculado de conteúdo e de propósito", nem localizado fora de uma relação pedagógica, pois é através do “diálogo aventuroso" entre o professor e os alunos que se "conseguirá a aprendizagem significativa", o aperfeiçoamento de cada aluno e, por via deles, conseguir uma cidadania esclarecida, crítica e um futuro para a humanidade.

Continua hoje, “num tempo de grandes mudanças” a ser “tão importante proteger, transformar e valorizar as escolas e os professores”, no contexto de uma educação que é, mesmo, “a junção de pessoas diferentes num mesmo espaço, é a capacidade de trabalharmos em conjunto”. É essencial assumir claramente que “não há educação fora da relação com os outros”, e que esta “não é apenas um ato individual, é uma dinâmica de aprendizagem com os outros”, em que “ninguém se educa sozinho” e que “só juntos podemos definir os caminhos de futuro para a educação”. Por isso, é tão importante “preservar as escolas como lugares de educação”.

Aí está a dimensão relacional e socializadora constitutiva da educação, pois “aprender e estudar em comum é a melhor forma de promover uma “sociedade convivial”, uma humanidade comum”, pelo que “as tendências recentes de uma “domesticação” da escola, isto é, de um regresso da educação “aos espaços domésticos”, familiares, é um retrocesso imenso numa visão humanista que se destina a educar todos com todos. Retiradas da relação com os outros, as crianças ficam impedidas de desenvolver a arte do encontro e as sociedades ficam privadas de uma das poucas instituições onde ainda se pode tentar construir uma vida em comum”.

Neste contexto, é imperioso implementar um processo de transformação organizacional da escola que garanta esta “convivialidade”, este “encontro” e esta “relação” entre todos, no profundo respeito pela “singularidade de cada um e de todos” os alunos, que concretiza a sua missão de “construir autonomia para o futuro, para um mundo desconhecido”.

Nesta escola que queremos, “a cultura e o clima de escola assumem um papel essencial” e “qualquer mudança, transformação é realizada pelas pessoas”. Neste quadro, “a capacidade de escuta de quem dirige a escola é, pois, fundamental, onde a proximidade, a emoção e o afeto têm um papel crucial”. Nesta Escola “Integradora, Inovadora, Inclusiva, Transformadora o sentido, o rumo, a direção é mais importante do que a velocidade” e valoriza-se “a importância do trabalho colaborativo e em rede por ser gerador de mudança, inovação e melhores práticas”.

Assim sendo, não é concebível, nem aceitável uma escola que "vive entrincheirada", alicerçada em modelos fechados e impermeáveis, incapaz de responder, sobretudo, aos desafios da diversidade, da flexibilidade, da inclusão e da pertença e participação dos alunos nos contextos sociais que os rodeiam. Temos, por isso, de apostar em “modelos pedagógicos alinhados com a educação de competências para a vida, com forte participação e envolvimento efetivo dos alunos na construção do seu processo de ensino-aprendizagem”, bem como “garantir a integração de tecnologia na sala de aula e na aprendizagem dos alunos”, o que traz, nomeadamente, “o aumento do interesse, envolvimento e protagonismo que facilmente o aluno consegue” e que claro, reforça o “acesso e inserção de materiais e conteúdos complementares e ajustados ao perfil de cada aluno.”

Deste modo, todos os contributos para a “literacia digital”, bem como “da literacia visual” são centrais neste processo. Urge incentivar os jovens a adotar “uma postura crítica perante a informação que lhes é apresentada, a compreender a permanência de tudo aquilo que é publicado na Internet, assim como as consequências da partilha de dados através das redes sociais”. Chegados ao final do primeiro quarto do século XXI, entendemos que a escola e a educação estão e continuarão em constante transformação. Diversas instituições educativas, em todos os níveis de ensino, já se deram conta da falta de sincronia da antiga metodologia de ensino com os novos tempos. A realidade apresenta-se implacável e a necessidade de um novo olhar sobre o ensino fica, cada vez mais, bem evidente.

Na procura pela transição para um modelo mais ajustado à educação do século XXI, de novas formas da escola se posicionar no ato educativo, continua-se a desenvolver uma grande pluralidade de estudos e investigações e a produzir uma grande quantidade e diversidade de dados estatísticos e relatórios … acreditamos, porém, que a chave do sucesso está “na vontade de mudança”.

Perceber a mudança esperada nas conceções e nas práticas traduz-se em fazer diferente. Valorizar a diferença e aprender a partir dela é, necessariamente, fazer diferente.

Nesta escola que todos queremos é, então, imperioso colocar as aprendizagens no centro da vida escolar; é fundamental o professor desenvolver uma pedagogia eficaz, que valorize a diversidade e ofereça a possibilidade de todos os alunos serem capazes de ter êxito; é essencial afirmar, de forma sustentada, a equidade, a acessibilidade, a justiça social e a inclusão.

A Revista Diversidades, nos seus números, vai continuar a constituir-se como um “espaço” que valoriza objetivamente a “Educação”, que desafia a um constante exercício de reflexão sobre a escola, que precisa de se reestruturar num processo de transformação e reformulação das suas práticas pedagógicas e organizacionais. Queremos continuar a expor os desafios que as escolas enfrentam para se adequarem às novas exigências e os cuidados de todos os seus “profissionais” no sentido de repensar e implementar novas estratégicas e práticas.

Precisamos todos de contribuir para esta “reflexão”.

 

Marco Gomes

Diretor Regional de Educação


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