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Conferencistas de renome no “Dar a Ver”
Victor dos Reis e Vítor Serrão proferem comunicações no Funchal nos dias 3 e 4 de março
27-02-2017
Economia, Turismo e Cultura
No âmbito da segunda edição do projeto de divulgação cultural DAR A VER, iniciativa da responsabilidade da Secretaria Regional da Economia, Turismo e Cultura, através da Direção Regional da Cultura (Direção de Serviços de Museus e Património Cultural) realiza-se nos próximos dias 3 e 4 de março (sexta-feira e sábado) duas conferências no Museu Quinta das Cruzes.
Na sexta-feira, dia 3 de março, pelas 18 horas, realizar-se-á a conferência sob o tema: O ecrã barroco: tetos pintados, máquinas celestiais e a moderna cultural visual, por Victor dos Reis.
Licenciado em Pintura (ESBAL, 1990) e doutorado em Teoria da Imagem (Universidade de Lisboa, 2007), Victor dos Reis é docente na área de Arte Multimédia e, desde 2014, Presidente da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
Autor de diversos artigos e capítulos de livros publicou o livro O Olho Prisioneiro e o Desafio do Céu: A Primeira Demonstração Perspéctica de Filippo Brunelleschi como Invenção e Paradigma da Perspectiva Central (Lisboa, 2002). Realizou também várias exposições, sendo que é coautor dos atuais programas de Desenho do Ensino Secundário.
Na comunicação que irá proferir no Museu Quinta das Cruzes, Victor dos Reis, procurará dar a compreender e demonstrar como, ao longo dos séculos XVII e XVIII, a cultura visual ocidental adquiriu uma dimensão acentuadamente moderna através de uma estreita aliança entre a arte, a ciência (da ótica à perceção visual) e a tecnologia visual – nomeadamente aquela que tornou possível a projeção de imagens tanto em ecrãs materiais, como as paredes e os tetos de salas e igrejas, como em ecrãs imateriais, como a mente do sujeito observador. Os grandiosos tetos pintados no período Barroco são uma das mais notáveis expressões deste moderno processo de estímulo à imaginação e de desafio à mente do observador. É este o ecrã barroco que aqui será apresentado.
Já no sábado, dia 4, pelas 15 horas, também no Museu Quinta das Cruzes, será a vez de Vítor Serrão, fazer uma comunicação sobre: Pintura Maneirista Portuguesa – Reflexos Insulares.
Vítor Serrão é Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde dirige o centro ARTIS-Instituto de História da Arte. É vice-presidente da Academia Nacional de Belas Artes, membro das Academias das Ciências e de História, e autor de numerosa bibliografia sobre arte portuguesa dos séculos XVI-XVIII e sobre teoria da arte, de que se destacam os livros O Maneirismo e o Estatuto Social dos Pintores Portugueses (IN-CM, 1983), André de Padilha e a pintura quinhentista, entre o Minho e a Galiza (Estampa, 1998), A Pintura Proto-Barroca em Portugal, 1612-1657 (Colibri, 2000), A Cripto-História da Arte. Análise de Obras de Arte Inexistentes (Livros Horizonte, 2001), A Trans-Memória das Imagens (Cosmos, 2006), O Fresco Maneirista no Paço de Vila Viçosa, Parnaso dos Duques de Bragança, 1540-1640 (Fundação da Casa de Bragança, 2008) e Arte, Religião e Imagens em Évora no tempo de D. Teotónio de Bragança, 1578-1602 (FCB, 2015), e os catálogos das exposições (que comissariou) Josefa de Óbidos e o tempo barroco (IPPC, 1991), A Pintura Maneirista em Portugal - arte no tempo de Camões (CCB, 1995) e Rouge et Or. Trésors du Baroque Portugais (Paris-Roma, 2001).
Nesta conferência, será feita uma abordagem ao Maneirismo, corrente artística surgida em Itália (Roma, Florença, Milão) e que se propagou pela Europa, apresentando uma gramática pictoral caracterizada pelo sentido anticlássico e certa ousadia formal com as suas formas “serpentinadas”.
Muitos pintores portugueses tiveram aprendizado da “Bella Maniera”, em Roma, como António Campelo e Gaspar Dias, e o tratadista Francisco de Holanda, explicando, assim, a aceitação, em Portugal, quer por parte de artistas, encomendantes e mecenas, que aderiam à nova linguagem plástica, com significativa produção e encomendas de obras de arte.
Também a clientela madeirense esteve atenta às inovações artísticas e encomendou a oficinas nacionais, especialmente a pintores de Lisboa, pinturas para conventos, igrejas e capelas privadas, algumas ainda “in situ”, outras hoje incorporadas no Museu de Arte Sacra do Funchal ou em coleções particulares. Destacam-se obras de Diogo de Contreiras, do Mestre de Abrantes, do Mestre de Arruda dos Vinhos, de Francisco Venegas, de Diogo Teixeira, de Fernão Gomes e de Simão Rodrigues – grandes nomes do Maneirismo português.
Do rico património concernente à pintura maneirista, existente ainda na Ilha da Madeira, evidencia-se o número de obras atribuídas a Fernão Gomes (1548-1612), pintor régio de Filipe I e de Filipe II de Portugal, formado em Delft e em Roma, sendo a obra mais notável a “Ascensão de Cristo”, encomendada cerca de 1583, e que formou o retábulo do altar da Confraria da Ascensão, na Sé do Funchal, e hoje exposta no Museu de Arte Sacra do Funchal. Anota-se nesta pintura a possível representação do seu auto-retrato, figura de homem calvo e obeso que fita o espectador, como aconteceu em outras pinturas de sua autoria (“Pentecostes” de Portalegre; “Assunção da Virgem” da Matriz de São Julião do Tojal, em Loures, e numa tábua em Santa Maria de Setúbal).
Na Madeira, na Ribeira Brava (1590), na igreja de Quinta Grande, na Capela do Corpo Santo, na Quinta da Senhora do Faial, no convento de Santa Clara, e em outros espaços sacros. A influência da pintura de Fernão Gomes junto dos grandes clientes madeirenses foi intensa e gerou uma empatia formal que perdurará, por alguns anos ainda, através da presença de obras de outros artistas de Lisboa (como Diogo Teixeira, por exemplo), seguidores da sua lição.
Recorde-se que o projeto DAR A VER, tem por base a ideia da divulgação, de forma gratuita, do património artístico existente no arquipélago da Madeira, tendo pro base a ideia de que, para além dos trabalhos de investigação, classificação e conservação e restauro, é essencial proceder-se à divulgação e ao conhecimento de um vasto e diversificado conjunto de bens móveis e imóveis postos à guarda de todos os madeirenses, e que constituem uma essencial reserva de identidade cultural.Neste âmbito e até novembro serão convidados vários especialistas, locais e nacionais, que abordarão de forma mais específica ou generalista aspetos dessa imensa diversidade cultural conservada in situ, ou já transitada para museus. O essencial do programa será, como em 2016, constituído por visitas guiadas e por conferências a realizar em vários locais.
Refira-se ainda que a participação nestas atividades é gratuita, sendo que deverá ser feita uma inscrição prévia através do endereço daraver.drc@gmail.com.
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Dar a Ver
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